“Marrr-labie, marrr-labie?”

“Marrr-labie, marrr-labie?”
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Por Rita Lobo - 15 de outubro de 2007


Na quinta-feira, antes do feriado, fui almoçar no Arábia. Sou fã da cozinha da Leila, chef-proprietária do restaurante. E fã dela também. Naquele dia, porém, tudo estava excepcionalmente bom. O babaganuch, pasta de berinjela, estava com sabor bem defumado, aroma intenso, textura cremosa, como deve ser. A Fatuche, salada com vinagrete de romã, bem azedinha, estava de raspar o prato.

Um parêntese. Há muitos anos, quando meu marido e eu fomos para Petra, na Jordânia, arrumamos um guia que não falava muito bem inglês. Era mais para motorista, mas isso a agência de viagem não avisou. A comunicação era vaga. Ele só falava árabe. Hisham era o nome dele. Em inglês, perguntei: “Hisham, na sua opinião, qual o melhor restaurante de Aman?” A resposta dele foi: “Yes.” Perguntei de novo: “Hisham, tabule, babaganuch, homus, quibe, malabie...” Ele arregalou os olhos. Parece-me que a minha pronuncia da sobremesa de que tanto gosto estava erradíssima: “Marrr-labie, marrr-labie?”, ele perguntou. Pronto. Hisham entendeu que queríamos comer bem. Durante sete dias, comemos tudo do bom e do melhor. Salvo uma única roubada, mas ele tinha de nos levar ao restaurante do brimo, claro.

No Arábia, decidi não comer "marrr-labie" de sobremesa. Estava com vontade de tomar um sorvete. E os de lá são ótimos: rosas, pistache e halva, ou melhor, halewa, aquele doce superdoce de gergelim, apreciado por árabes e judeus. Halva para os judeus, halewa para os árabes. Mas o doce é o mesmo. E o sorvete é dos deuses. Depois, um café, a conta e mais um mantecal, aquele biscoito amanteigado árabe, polvilhado com pistache, que não canso de comer, mas nunca acertei fazer. Um dia, a Leila me ensina. (Claro que passo a receita para frente quando eu aprender o preparo verdadeiro.) Já eu, vou fechar a boca essa semana. Fiquei com preguiça de viajar no feriado. E programa de paulistano é comer. Ainda na quinta-feira, o jantar foi no Antiquarius, com direito aquele couvert que vale por um jantar inteiro, o divino arroz de pato e, nada mais, nada menos que seis sobremesas! E depois eu conto sobre os outros restaurantes.