Acredite: você não precisa de tempero pronto industrializado

Acredite: você não precisa de tempero pronto industrializado
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Por Rita Lobo - 23 de janeiro de 2017


O caldo em cubo é considerado pela indústria de alimentos um case de sucesso. De fato, do ponto de vista de marketing, é perfeito – chega a ser emblemático – porque é a solução para um problema que não existe. Como é que é? Sim, se você é capaz de cozinhar, certamente pode temperar as suas preparações.

O trabalho muito bem feito foi criar a falsa impressão de que, com caldos e temperos prontos industrializados, fica muito mais fácil cozinhar. (Não fica.) E que a sua comida ainda ganha um toque de chef. (Não ganha.) O que facilita é ter ingredientes à mão, aprender técnicas básicas e praticar. Ou seja, cozinhar. E temperar faz parte disso. Ainda assim, boa parte da população compra e usa, sem se dar conta de que, além de desnecessário, tempero industrializado é deletério à saúde – e até ao paladar.

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Basta ler a lista de ingredientes do caldo em cubo para saber que, em vez de temperos de verdade (ervas, especiarias e até legumes aromáticos in natura), você está consumindo: “gordura vegetal, amido, açúcar, realçadores de sabor glutamato de sódio e inosinato de sódio, espessante goma xantana, aromatizantes e corante caramelo III”.

Uma amiga minha costuma dizer que tempero pronto, seja ele em cubo, em pasta, em pó, é a porta do inferno: você começa temperando a sopa, vai destruindo o seu paladar e, de repente, está achando legumes e frutas sem sabor e a lasanha congelada deliciosa. Esses temperos levam na composição químicos que potencializam os sabores de forma artificial e que, além de não serem saudáveis, desregulam o paladar. (O mesmo acontece com quem toma refrigerante, inclusive os diet ou zero.)

No Brasil, é bastante comum o caldo ser usado como tempero genérico. Na sopa, no feijão, no risoto. Por quê? Porque é mais prático, pode responder um cozinheiro habituado a usar tempero pronto. Então vamos analisar alguns casos.

- Sopa: muito provavelmente, a pessoa começa o preparo com um belo refogado. Vai para a panela o azeite ou a manteiga, a cebola picada, um dente de alho, um louro para perfumar, sal, pimenta-do-reino e mais os ingredientes da sopa. Cenoura, mandioquinha? Músculo e cevadinha? Couve-flor? As possibilidades são infinitas. Na sequência, entra o líquido.

É verdade que um litro de caldo caseiro vai deixar o preparo mais saboroso, seja ele de legumes, de galinha ou de carne. Mas a verdade verdadeira, meus amigos, é que água dá conta do recado. O tempero, inclusive, já está no preparo.

Mesmo assim, muita gente junta ali um cubo de caldo, sem perceber que está ultraprocessando o que era para ser uma preparação caseira.

O sujeito já descascou, cortou, cozinhou… Como o tempero industrializado vai deixar essa preparação mais prática? Não vai.

- Feijão: não vou nem me estender... No lugar de usar o caldo de bacon (sim, muita gente usa) por que não usar o bacon de verdade? Ou paio? Ou adicionar ao refogado especiarias (que são temperos de verdade), como cominho, páprica, pimenta calabresa ou até um pouco de gengibre em pó.

- Risoto: Ah, sim, tem o caso do risoto. Muita gente começa a cozinhar porque quer fazer um jantar a dois e a primeira receita que vem à cabeça é um risotinho amigo. Maravilha. A pessoa investe no arroz italiano, no queijo parmesão e na hora de cozinhar, estraga tudo colocando o cubinho de caldo industrializado. Resultado? Vira risoto sabor macarrão instantâneo.

- Macarrão instantâneo: você pensa que no sachê tem tempero; mas na realidade vai consumir aditivos químicos como glutamato monossódico, inosinato dissódico, guanilato dissódico, que são “melhoradores” de sabor – aqueles que destroem o paladar. E antiumectante dióxido de silício, uma substância que está ali para que esse pó fique bem seco durante todo o tempo que tem de durar nas prateleiras. Você quer isso na sua comida de todo dia?

Quando você vir nas prateleiras dos supermercados pozinhos que prometem deixar sua carne assada com gosto de carne assada caseira, lembre-se de mim: carne assada com gosto de carne assada caseira é aquela que você faz na sua casa com alimentos de verdade, entre eles, temperos como alecrim, louro, pimenta-do-reino, sal. Se tiver tempero pronto industrializado na receita, ela deixou de ser comida de verdade e foi ultraprocessada na sua própria cozinha!

Calma lá, nem tudo está perdido!

Um cozinheiro sem muita prática pode terminar a leitura desse post desolado. Mas como é, Rita, que eu vou temperar as minhas comidinhas? Ah, caro leitor, tenho ótimas notícias: especiarias (todas), ervas frescas ou secas e legumes aromáticos (como cebola, alho, salsão, alho-poró e cebola, por exemplo) são excelentes temperos – além do sal e pimenta (que é também uma especiaria). E são comida de verdade! Pode usar e abusar.

E mais: dá para produzir ou seus próprios temperos prontos, combinando ervas e especiarias – e sem adicionar nenhum tipo de aditivo químico, óbvio.

Mais uma boa notícia: na próxima quinta, no episódio inédito do Cozinha Prática Verão, ensino o preparo de vários temperos prontos. Não falei que nessa temporada você iria aprender a trocar produtos ultraprocessados por comida caseira, de verdade?

O Cozinha Prática Verão vai ao ar na quinta-feira às 21h15, com reapresentações às sextas (17h15); sábados (10h45 e 21h45); domingos (6h45 e 14h30) e terças (4h30).

Foto: Editora Panelinha